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CONTEXTO: Alterações climáticas assolam o planeta e geram alerta de especialistas

A professora Narah Costa Vitarelli, do Núcleo de Biologia, faz uma análise sobre o assunto e acredita que os fenômenos extremos da natureza sejam cada vez mais recorrentes.

Ondas de calor, secas extremas, queimadas, furacões, tempestades, degelo, aumento do nível do mar e da temperatura das águas oceânicas. Estes serão cenários cada vez mais comuns daqui para frente. O planeta Terra vive ciclos naturais de variações climáticas, que se modificam ao longo dos períodos. Estima-se que a média da temperatura global nos períodos de glaciação era de 7,8 ºC, já no período atual a média global é de 15º C. Os fenômenos extremos que estamos vivenciando seriam então apenas reflexos de um novo ciclo natural da Terra? 

Segundo a professora Narah Costa Vitarelli, do Núcleo de Biologia, a questão não é tão simples assim, tendo em vista o aumento drástico da temperatura global em um curto período de tempo. Portanto, os fenômenos extremos não são reflexos de uma ação natural do planeta, e sim, de uma disfunção provocada pela atividade humana. Em temperaturas elevadas, a taxa de evaporação das águas oceânicas e terrestres é maior, em consequência, os altos índices de precipitações geram tempestades catastróficas, fenômeno observado há alguns anos no Brasil e que assolou a Europa no mês passado, causando inundações em algumas regiões da Alemanha, Bélgica, Holanda e Suíça

Com a recorrência de catástrofes naturais, fica evidente a  necessidade de um sistema de alerta para quando houver a previsão de precipitações desse porte. “Ainda não estamos bem preparados para essas tempestades e as subestimamos. Antes eu olhava a previsão do tempo e adiava uma viagem, por exemplo, se estivesse prevista uma precipitação média acima de 30 mm. No verão de 2020 tivemos mais de um episódio de precipitação acima dos 200 mm em Minas Gerais. Eu olhava aqueles dados e pensava: meu Deus! Isso é possível!". Afirma Narah. 

Especialistas afirmam que cenários como este estarão cada vez mais presentes na nossa realidade, tornando-se o "novo normal". De acordo com o último relatório da American Meteorological Society, cada década, desde 1980, tem se mostrado mais quente do que a anterior, sendo a mais recente no período de 2010 a 2019, com cerca de 0,2°C acima da década precedente. Com este aumento exponencial, “muitos cientistas consideram o atual momento como uma década chave para reverter essa situação, batizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a década dos oceanos e a década da restauração dos ecossistemas, sendo estas duas vertentes estratégicas para que possamos reverter o cenário de mudanças climáticas que vivemos”, aponta Narah. 

Efeito estufa: inimigo ou aliado? 

O efeito estufa é um fenômeno natural, regulador da temperatura terrestre através do controle da entrada e saída de radiação solar. Isto é possível através da capacidade de alguns gases da atmosfera em reter parte da luz do sol que, em consequência, emite o calor de volta para a superfície terrestre, mantendo, assim, uma temperatura global favorável à existência de vida. “O problema é que nós, humanos, temos aumentado a concentração desses gases estufa na atmosfera e com isso mais calor é retido no planeta, consequentemente a temperatura global está aumentando e gerando mudanças climáticas e fenômenos extremos”, ressalta. 

Não é possível bloquear massas de ar quente, mas sim, evitar que elas se formem. Desta forma, é necessário reduzir drasticamente a emissão de gases, buscando novas estratégias e alternativas para alterar esse nosso padrão econômico e de consumo. Um dos grandes desafios é em relação à combustão de combustíveis fósseis, realizada através da queima de carvão e de derivados do petróleo, que libera gases altamente poluentes na atmosfera, a exemplo do próprio dióxido de carbono (CO2). Narah cita uma solução simples: plantar árvores. Através da fotossíntese, a vegetação captura o CO2 da atmosfera e incorpora o carbono na forma de biomassa. 

A restauração da vegetação permite a renovação de toda uma teia alimentar, além de fortalecer a rede de interações ecológicas, restabelecendo a nossa rica biodiversidade. Caso medidas não sejam tomadas, as previsões apontam cenários catastróficos. Para o Brasil, teremos maior frequência de tempestades, secas extremas, racionamento de água, além dos incêndios que atualmente castigam muitas regiões do país.

As perdas que tivemos no Pantanal em consequência dos incêndios no ano passado podem ser irreversíveis. Os danos ao solo, a perda de biodiversidade e o acúmulo de matéria orgânica, que servirá como combustível para novos incêndios, podem ter efeitos gravíssimos para o bioma Pantanal. Estudos já estão sendo realizados para se avaliar a proporção do impacto, mas muitas respostas só serão possíveis com o passar dos anos. “Espero que a natureza nos surpreenda e o Pantanal se mostre mais resiliente do que imaginamos. Mas não dá para ficar só na torcida, precisamos agir de forma preventiva sempre”.

É preciso reunir esforços para preservar ecossistemas e a biodiversidade. O meio mais viável é definir compromissos políticos para aplicação de medidas legais com a finalidade de reduzir danos do aquecimento global, desde que haja fiscalização e ação efetiva dos governos. Esses compromissos políticos são firmados em eventos como a Cúpula do Clima e a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP) e cabem aos representantes de cada nação assinar o acordo ou não. “Temos que sair do universo das promessas bonitas e partir para as ações efetivas”, finaliza Narah. 

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