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Pesquisa revela estagnação no uso de bicicletas em Juiz de Fora e aponta áreas críticas para segurança viária

Estudo atualizado sobre o tráfego de ciclistas na cidade mapeia pontos de risco e sugere intervenções para melhorar a segurança no trânsito

O projeto "Caracterização do tráfego cicloviário em Juiz de Fora", iniciativa do curso técnico de Transporte Rodoviário do Campus Juiz de Fora, está em sua segunda etapa. Após a realização de contagens de ciclistas em pontos estratégicos da cidade, o estudo avançou para a aplicação de um questionário entre ciclistas locais. O objetivo do levantamento é traçar o perfil dos usuários desse modal, entender suas necessidades e dificuldades, além de coletar informações sobre as condições de infraestrutura, segurança e mobilidade enfrentadas no dia a dia.

O questionário on line, destinado para toda a população, busca dados sobre a frequência de uso da bicicleta, os principais trajetos percorridos, os motivos que levam à escolha desse meio de transporte, bem como os desafios encontrados, como falta de segurança, infraestrutura inadequada ou condições adversas do trânsito. Esses dados serão essenciais para complementar os resultados obtidos nas contagens e oferecer uma visão mais ampla sobre o uso da bicicleta em Juiz de Fora.

Em abril de 2024, a pesquisa contou o número de ciclistas em dois cruzamentos de grande movimento, e comparou com os dados do levantamento realizado pelo grupo de pesquisa em 2013. A apuração foi feita na Avenida Rio Branco com a Avenida Itamar Franco, no Centro; e na Avenida Juscelino Kubitschek com a Rua Acir José do Amaral, em Benfica, na Zona Norte. Na primeira área, o número de ciclistas caiu de 1.141, em 2013, para 1.008 em 2024. Em Benfica, os registros também diminuíram, passando de 997 para 903 ciclistas. Apesar das expectativas de crescimento no uso das bicicletas, o estudo revelou que o número de ciclistas permaneceu estável nos últimos 11 anos, sem grande avanço.

Além das contagens, a pesquisa realizou uma análise dos acidentes envolvendo ciclistas entre 2013 e 2023. Foram georreferenciados 969 acidentes de trânsito, com maior concentração no centro comercial de Juiz de Fora e em subcentros comerciais da cidade. A maior parte ocorreu no turno da manhã, com 647 registros, e durante a semana, sendo que “falta de atenção” foi a causa presumida predominante, responsável por quase 49% das ocorrências. Outro dado importante é que o período entre 2015 e 2016 concentrou 27% dos registros de acidentes, indicando um pico significativo de problemas de segurança viária nesse intervalo.

A professora Sheila Menini, do Núcleo de Transporte Rodoviário, responsável pelo estudo, explicou que um dos fatores que contribuíram para a estagnação no uso de bicicletas na cidade foi a ausência de políticas públicas de incentivo ao modal ciclístico. Segundo dados do Censo, enquanto a população de Juiz de Fora cresceu 4,74% entre 2012 e 2022, a frota de veículos aumentou em 36% no mesmo período. No entanto, a cidade não implementou ciclovias ou ciclofaixas seguras que estimulassem o uso da bicicleta como meio de transporte cotidiano.

A infraestrutura cicloviária em Juiz de Fora ainda é muito limitada. A única ciclofaixa da cidade está localizada na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), restrita a uma área de uso recreativo e sem integração com outros pontos da cidade. Menini ressalta que a topografia acidentada da cidade também é um desafio, o que torna ainda mais urgente a criação de eixos cicloviários adequados, que contemplem a segurança e o conforto dos ciclistas.

Para enfrentar esses desafios, o estudo propôs intervenções urbanísticas, como a construção de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, além da implantação de bicicletários e sistemas de bicicletas compartilhadas. Essas medidas visam consolidar o uso da bicicleta como uma opção viável de transporte, contribuindo para a melhoria da segurança no trânsito e a redução dos acidentes.

A pesquisa também pode servir como ferramenta de suporte para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a mobilidade urbana em Juiz de Fora. No entanto, o PlanMob-JF, plano de mobilidade urbana da cidade, ainda carece de iniciativas para ciclistas, sendo que a prioridade atual está voltada para a transposição da linha férrea. Com a atualização desse plano prevista até 2026, espera-se que novos projetos priorizem o transporte ativo, como bicicletas e pedestres, promovendo um trânsito mais seguro e sustentável.

Menini destaca que a metodologia utilizada na pesquisa — baseada em contagem de ciclistas, mapeamento de acidentes e análise das infraestruturas cicloviárias existentes — pode ser replicada em outras cidades brasileiras de médio porte. O objetivo é oferecer suporte a políticas públicas, promover campanhas educativas e direcionar investimentos para a melhoria da mobilidade no Brasil.

 

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