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Os desafios de exercer a paternidade em época de pandemia
A pandemia de coronavírus impôs à muitas famílias uma convivência nunca antes possível. Homens e mulheres, pais e mães, viram-se às voltas com o home office, o serviço doméstico, os cuidados com as crianças e a necessidade de serem professores de seus filhos. Uma rotina estafante, não é mesmo? Mas esta rotina fica mais leve quando pode ser dividida, ou melhor, compartilhada. E ela é compartilhada? Infelizmente o que vemos é o que os pilares das sociedades patriarcais se repetem no ambiente doméstico: existe a separação dos trabalhos femininos e masculinos e os trabalhos masculinos tendem a ser mais valorizados. Isso se reflete muitas vezes nos tipos de atividades realizadas pelos pais. Segundo dados da Pesquisa “A Situação da Paternidade no Brasil”, realizada pelo Instituto Promundo, a maioria dos pais brasileiros relata brincar com as crianças (83%), no entanto, atividades como dar banho (55%) e cozinhar (46%), são bem menos citadas e acabam sendo destinadas majoritariamente às mães. Por outro lado, a pesquisa revela que mais de 78% dos entrevistados acreditam que os pais deveriam tirar a licença paternidade e 64% informaram que estariam dispostos a fazer um “curso de pai” para aumentar sua licença de cinco para 20 dias. Com a proximidade de Dia dos Pais, estes últimos dados nos trazem a esperança de que a situação esteja mudando, que os pais estejam mais participativos, especialmente em um momento de tantos desafios como o que estamos vivendo. Nesta matéria, nosso objetivo é parabenizar os pais pelo seu dia, e, além disso, mostrar exemplos de homens que exercem a paternidade e que não a usam apenas como um título.
Pai professor
Para o servidor Alexandre Duarte, a pandemia trouxe muitos desafios, mas cuidar dos filhos não é um deles, já que esta função sempre foi compartilhada com a esposa Bárbara. Os dois são pais de Bernardo, 9, e Heitor, 6 anos. A família toda está em home office e este é um grande desafio: “Aqui em casa estamos todos em trabalho remoto (risos). Além de mim e de minha esposa Bárbara, as crianças estão tendo aulas remotas e síncronas. O Bernardo, de 9 anos, está no 3º ano e tem aulas síncronas diariamente. Já o Heitor, de 6 anos, está no 2º período e tem encontros síncronos 3 vezes por semana. Tentamos auxiliá-los o máximo possível, mas quando todos temos reuniões simultaneamente, fica complicado. Sinto não conseguir ajudá-los tanto quanto gostaríamos”, afirma Alexandre.
Desafio maior, em meio a tantas notícias negativas e ao necessário isolamento social, é manter a saúde mental, além da física: “O maior desafio de ser pai em meio a esta pandemia é ajudar a sua família a manter a saúde física e mental. Precisamos cuidar não só dos protocolos de higiene, mas também dos carinhos, conversas e brincadeiras para aliviar o estresse das crianças. Ser pai está naturalmente associado a amar incondicionalmente e se preocupar com os filhos, e esta pandemia nos traz várias preocupações adicionais”, reflete o servidor.
Este dia dos pais é com certeza diferente, com novas preocupações e formas de comemorar e de conviver com os filhos. E o presente que Alexandre, e talvez a maioria dos pais gostaria de ganhar, é o fim da pandemia. E, como isso ainda não é possível, o amor dos filhos continua fazendo a paternidade valer à pena: “Se eu tivesse que escolher apenas uma coisa que vale à pena neste mundo eu diria que é ser pai”, celebra Alexandre.
Pai que luta
Desafios são comuns na vida do pai Jorge Cirilo Filho. Jorge tem três filhos já adultos: Vivian, Lívia e Jorge Cirilo Neto. E também é o avô coruja do Guilherme e da Lana. O filho caçula, Jorge Neto, além de inteligente e determinado, é surdo e tem visão monocular. Esta condição especial do filho fez com que Jorge e a esposa, Ana Maria, tivessem que lutar pela sua inclusão. Esta foi a grande luta dos pais durante a infância do filho: fazer com que ele tivesse acesso à uma educação inclusiva. A família saiu vitoriosa desta guerra, e hoje Jorge, já formado em Arquitetura, cursa Desenvolvimento de Sistemas no IF Sudeste MG, onde, segundo o pai, o rapaz encontrou acessibilidade e igualdade de oportunidades.
Neste Dia dos pais, em meio à pandemia de Coronavírus, Jorge diz que o maior desafio é manter a família informada, unida e calma. Mas, que tudo vale à pena, pois, segundo ele, ser pai dá sentido à sua vida. Presente? Só a união e a saúde da família bastam.
Pai aluno
Douglas Cabral de Oliveira passa a maior parte do dia no Campus Juiz de Fora: ele trabalha como terceirizado durante o dia e é aluno do curso de Secretariado durante a noite. Pai de 3 filhos: Douglas, 21, João Pedro, 16, e Daniel Asaf, 10 anos; ele acredita que está mais tranquilo do que outros pais, já que seus filhos já estão grandes. O filho menor de Douglas estuda em uma escola municipal e não está tendo aulas online. Douglas está trabalhando duas vezes por semana, o que lhe permite aproveitar o tempo para ficar com a família. E é por aí que, segundo ele, passa o maior aprendizado que a pandemia pode nos trazer: “Eu acredito que, para alguns pais, ficar em casa com os filhos esteja sendo uma experiência nova. A correria do dia a dia acaba fazendo com que falte tempo para se relacionar com os filhos de uma maneira mais próxima, digo por experiência própria. Portanto, no momento em que vivemos, é preciso aproveitar para se aproximar mais e fortalecer o relacionamento pai e filho. O desafio não está em ficar em casa, mas sim em reaprender a conviver em família e a aproveitar este tempo para fortalecer ou, quem sabe, refazer laços familiares. Ser pai é uma dádiva divina”, avalia Douglas.
Pai amigo
Lindolpho von Berg, servidor do Campus Barbacena, é pai da Valentina, 10 anos. Lindolpho e a mãe da menina, Amanda Maria Fajardo Silveira, a criam sob o regime de guarda compartilhada, e, segundo ele, são cúmplices nesta missão: “Somos cúmplices de uma educação e de um cuidado, e nosso companheirismo ensina à Valentina os valores que acreditamos” reflete o pai.
O servidor está em home office, o que trouxe mais tempo para ficar perto da pequena, que, conforme ele, não é mais assim tão pequena: “estou em home office na maior parte do tempo. A Valentina já tem 10 anos, é muito independente e uma criança muito madura quando se trata de cuidar de si mesma. Trabalhar em casa nos trouxe mais tempo juntos e nos permitiu agrados que não tínhamos, mas buscamos o amadurecimento da relação pai e filha”, avalia Lindolpho.
Para ele, o grande desafio de ser pai em meio à pandemia está na necessidade de privar a filha da habitual liberdade, e o jeito encontrado pela dupla para lidar com isso passa por muita conversa: “Quando identificamos que a situação de pandemia não seria algo contornado tão facilmente, nos sentamos e conversamos. Ela entendeu, e, embora tenha se mostrado com certo medo, demonstrou uma capacidade de adaptação incrível. Mas, mesmo assim, os desafios são inúmeros. A Valentina ama viver cada minuto, de cada momento, e restringir a liberdade que ela naturalmente já usufruiu, mesmo que seja para o bem dela, é muito difícil para mim. Gostamos de viajar, ir a churrascos com amigos e nos aventurar em cachoeiras. Ela é minha melhor amiga. É muito difícil encontrar equilíbrio na relação sabendo que eu a estou privando de viver determinados momentos, mas a responsabilidade exige. Sei que ela é mais forte do que eu”, afirma o pai orgulhoso.
Além da conversa, o caminho para enfrentar os desafios da paternidade na pandemia, e, da paternidade participativa todos os dias, está no amor. É nisso que Lindolpho acredita: “Eu digo à Valentina diariamente que a amo. Ela me chamava de chato, dizia que eu era repetitivo. Eu respondia que quem a gente ama, precisa saber disso todo dia. Acredito que se ensinarmos aos nossos filhos que o amor é algo natural, teremos respeito e uma sociedade melhor. Desejo que todos façamos uma reflexão sobre a paternidade responsável, sobre abandono e machismo e sobre pequenas atitudes diárias que podem mudar nossa realidade e sociedade”, reflete o pai.
Pai que brinca
O Professor do Campus Santos Dumont Fernando Paulo Caneschi, e sua esposa Nívea Maria Valente, são pais de Maria Fernanda, 8, e de Pedro Antônio, 4 anos. Em home office, Fernando aproveita para ficar mais perto dos filhos e brincar bastante com eles: “Ser pai nessa época de pandemia e isolamento social está sendo uma experiência nova. Adoro ficar com meus filhos por perto. Sempre que posso, estou com eles durante os encontros online da escola. Estou trabalhando em home office. Durante a manhã geralmente eles ficam brincando, à tarde minha filha participa da aula online, e meu filho fica comigo fazendo trabalhinhos. E à noite assistimos à TV juntos. Apesar de eles terem uma rotina, sempre querem me "testar" e pedem celular, tablet ou TV. Então, a maior dificuldade é mantê-los longe dos eletrônicos”. Na tentativa de vencer esta dificuldade, Fernando usa a criatividade para entreter as crianças. Na imagem abaixo ele e os pequenos se divertem em uma cabaninha:
Pai professor também aprende! É o que afirma Fernando: "Ser pai é maravilhoso! Aprendemos muito com os filhos, em especial a refletir sobre nossas atitudes, além de voltar a ser criança em alguns momentos. Feliz Dia dos Pais a todos os pais! Que possamos vencer essa etapa e comemorar muitas outras datas com nossos filhos", deseja o professor.
O IF Sudeste MG também deseja um Feliz Dia dos Pais a todos os pais de nossa comunidade. Que a paternidade amorosa e participativa seja exercida em todos os tempos e que a pandemia passe logo, mas que a proximidade entre pais e filhos persista e aumente.
Fontes:
Promundo.org.br
azmina.com.br