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C3 divulga texto em prol do bem-estar do servidor em tempos de pandemia
“Pandemia, isolamento social, trabalho remoto, uso de máscara, etiqueta respiratória... O novo normal. Num cenário de incertezas e medo, que resultou em restrição dos relacionamentos presenciais e da liberdade de ir e vir e que dificuldades financeiras, adoecimento e morte têm sido uma constante, impactos negativos podem ser percebidos não somente na saúde física, mas também na saúde mental.” Preocupada com a saúde do servidor nesse contexto, a Comissão Cuidado com os Servidores do Projeto Reencontro (C3) elaborou um texto com reflexões e dicas para enfrentar esse período com emoções positivas e comportamentos saudáveis. Leia abaixo o texto na íntegra:
Emoções positivas e comportamentos saudáveis em tempos de pandemia
Pandemia, isolamento social, trabalho remoto, uso de máscara, etiqueta respiratória... O novo normal. Num cenário de incertezas e medo, que resultou em restrição dos relacionamentos presenciais e da liberdade de ir e vir e que dificuldades financeiras, adoecimento e morte têm sido uma constante, impactos negativos podem ser percebidos não somente na saúde física, mas também na saúde mental. As inseguranças, o medo do contágio e de adoecer provocam ansiedade, angústia, tristeza, estresse, principalmente em pessoas que já conviviam com isso anteriormente. Passamos a nos sentir mais vulneráveis e frágeis, já que, até agora, não há um tratamento efetivo para a COVID-19 nem uma vacina para o novo coronavírus, além de sermos a todo o momento identificados como potenciais agentes de infecção, examinados através de aferição de temperatura, controle do uso de máscaras nos espaços, etc, o que pode gerar em muitos de nós a sensação de distanciamento existencial e perda da nossa humanidade. E tudo isso sem podermos nos abraçar, beijar, saciar nossa necessidade de nos relacionar (lembrando que somos seres sociais e a sociabilidade é essencial para a manutenção da saúde mental). Perdemos referência de tempo, de espaço. Tudo isso ainda num contexto em que não sabemos quando acabará. Nós, humanos, necessitamos de segurança, de certa ordem e adaptação e não ter essas respostas e controle da situação, estar em situação de privação e de perda da liberdade no faz sofrer. Não há como calcular os riscos. Tudo é muito imprevisível. Então, o que podemos fazer?! Fica a pergunta. Urge, então, a inclusão de práticas de bem-estar e qualidade de vida que favoreçam a adoção de comportamentos de enfrentamentos mais saudáveis a esse momento de crise, que podem ajudar no cultivo do equilíbrio físico e emocional e fortalecimento da saúde mental.
Embora o contexto seja de risco e medo, é possível obter aprendizagens e crescimento pessoal e talvez seja um momento propício para ressignificar crenças e sentidos dados à vida. Daí a importância de promover emoções positivas e comportamentos saudáveis, gerando um espaço de gentileza, afeto, conexão e zelo de si para si:
● Autoconhecimento – Reconhecer e acolher as emoções –- Permita-se sentir as emoções, sejam elas positivas ou negativas, compreendê-las e aceitá-las sem se autopunir. Conhecer a si mesmo é uma forma de perceber se você está diferente e aprender a nomear o que está sentindo.
Tome consciência de suas capacidades, talentos, virtudes e limitações; de suas forças, fraquezas e impulsos e de como elas podem ser utilizadas a seu favor no contexto atual, bem como pode potencializá-las:
Quem sou eu? Como os outros me veem? No que eu preciso melhorar? O que eu desejo?
Experimente olhar com mais calma e carinho para os seus sentimentos - se está mais emotivo que de costume, se apresenta sentimentos que incomodam e tornam seu cotidiano mais difícil.
Algumas estratégias úteis que você pode utilizar para ajudar a perceber as próprias mudanças e fazer algo com elas:
Ter um diário - um caderno ou um bloco de notas no celular/computador em que você possa escrever sobre o que está sentindo ajuda a identificar o que sente, se conhecer melhor, aproximando-se de si mesmo, o que gera um efeito tranquilizador;
Expresse o que sente através das artes (desenhos, pintura, música, dança etc, o que mais lhe agradar).
A autoestima está relacionada com o julgamento positivo sobre sua capacidade para enfrentar as adversidades da vida, quem você é e o que aprecia em você, tanto as virtudes quanto as deficiências que precisam ser superadas.
Autocuidado - O autocuidado é um conjunto de atitudes e comportamentos que tem como propósito as sobrevivências física e psíquica em situações percebidas como adversas ou ameaçadoras. O autocuidado influencia a autoestima e aumenta a crença de que somos capazes (autoeficácia) de superar as adversidades da vida. Envolve:
- a satisfação saudável das necessidades básicas (comer, beber, dormir etc.),
- o acesso às condições mínimas de higiene pessoal, saúde e tratamentos de doenças;
- o hábito dos exercícios físicos regulares;
- o lazer;
- a convivência positiva e agregadora com outros seres;
- a prática religiosa (para os que têm algum tipo de fé);
- os cuidados com a saúde mental;
- o respeito à privacidade;
- o equilíbrio saudável entre trabalho, estudos e outras áreas da vida.
Autocompaixão - A autocompaixão pressupõe o autocuidado, o reconhecimento e o acolhimento de nossas emoções e tem como base três componentes:
- a bondade que tenho comigo, respeitando os meus limites e possibilidades, para ajudar e cuidar de mim mesmo;
- a consciência de humanidade, que significa compreender as minhas circunstâncias de vida, vinculadas às circunstâncias de vida dos outros;
- a atenção plena, que é tornar-se presente e em equilíbrio, de modo a não me envolver demais com o sofrimento alheio, o que requer o uso equilibrado da empatia.
A compreensão, o aprendizado e a prática da autocompaixão podem ajudar a compensar sentimentos de incerteza e ausência de controle.
Tente buscar sentidos para o seu sofrimento - de que forma esse sofrimento poderá te ajudar no futuro a crescer, a ser mais feliz, nos teus planos de vida? (Dica: escreva alguns sentidos e guarde para rever sempre que precisar).
Faça coisas que dão sentido e significado à sua vida, seja estudar um assunto que você goste, praticar a solidariedade, trabalhar em alguma causa que lhe agrade, etc. Segundo o psicólogo Viktor Frankl há alguns propósitos para encontrar sentido em meio às adversidades:
- Sobreviver (o que é necessário fazer para praticar o autocuidado em um contexto adverso?);
- Aprender (tornar-se mais tolerante para conviver melhor com as diferenças);
- Ajudar as pessoas, exercendo a solidariedade com aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade psíquica ou social. Assim, conseguimos perceber que ainda temos algo importante por fazer.
Lembre-se de coisas que você gostava de fazer – e que por algum motivo não tem feito mais. Faça coisas que lhe proporcionam prazer e bem-estar mesmo agora estando em casa devido à pandemia do novo coronavírus.
Lembre-se e recorra às coisas que em outros momentos lhe ajudaram a enfrentar situações adversas – Dica: faça uma lista com essas possibilidades e utilize-a sempre que necessitar;
Dedique um tempo para você mesmo - seja para pensar na vida, fazer planos. Pode parecer complicado, mas esse investimento ajuda no contato consigo mesmo. Você é a pessoa mais importante da sua vida!
Autoconfiança – O sucesso em uma tarefa ou comportamento fortalece a autoconfiança para outra tarefa ou comportamento. Lembre-se das pequenas vitórias que você teve ao longo da vida, coisas novas que você aprendeu, pessoas que você ajudou ou outros tipos de conquistas. Autoconfiança associada a conhecimentos prévios e a uma capacidade cognitiva adequada servirão de base para a motivação e o sucesso. Quando não acreditamos que nossas ações produzirão os resultados desejados, dificilmente nos sentiremos motivados para agir ou perseverar diante de dificuldades.
Esperança - quando estamos sem forças, precisamos ter esperança, o que é diferente de ficar esperando. Esperança é a crença de que a vida pode ser melhor. É constituída de pensamentos e de sentimentos por meio dos quais se constroem caminhos na direção de propósitos desejados: persistir no alcance de metas, elaborando caminhos para obter os resultados desejados.
A esperança pode ser aprendida, desenvolvida e praticada no dia a dia. Reflita sobre as questões a seguir:
- Pense, escreva, desenhe e imagine o que você deseja.
- Avalie e tome consciência das suas capacidades, dos seus recursos técnicos e psicológicos para tal.
- Estabeleça o “que, como, quando, onde e com quem”.
- Elabore etapas progressivas e monitore continuamente os progressos obtidos.
- Caso necessário, reavalie suas capacidades e seus propósitos.
Agora exercite/pratique as seguintes questões:
- O que você ainda tem de importante para fazer?
- Por que é importante viver?
- O que tem aprendido?
- Você tem ajudado as pessoas que precisam de você?
- Resiliência - A resiliência é uma qualidade psicológica relacionada à nossa capacidade de enfrentar positivamente as adversidades, com aprendizados, adaptação e crescimento. O primeiro passo para desenvolver a resiliência é se conscientizar sobre as situações que promovem o seu desequilíbrio e as inseguranças. O segundo é enxergar quais são os comportamentos resilientes que você já tem, pois é preciso focar em atos e sentimentos que promovem confiança para enfrentar com flexibilidade as situações difíceis e preservar a sua capacidade de adaptação. Também é fundamental ressignificar as crenças que levam você a ter comportamentos que geram estresse, ansiedade ou até mesmo frustrações. Em seguida, defina estratégias que o auxiliem a lidar com essas crenças que você identificou como vulneráveis e que podem ser reestruturadas:
1. Considere uma situação difícil que você já enfrentou.
2. Foque em um ou mais benefícios que resultaram dessa experiência.
3. O que você aprendeu com o resultado? De alguma maneira isso contribuiu para o seu crescimento?
4. Como essa experiência e esses aprendizados podem ajudá-lo a enfrentar o desafio que você vive atualmente?
5. Quais qualidades psicológicas e/ou forças pessoais você pode utilizar para enfrentar a situação que está vivendo?
- Otimismo - Os otimistas atribuem eventos positivos à sua própria capacidade (fatores internos), e tendem a aplicar o otimismo a outros aspectos da vida e de forma permanente; os eventos negativos, os otimistas veem como relacionados a fatores externos, específicos e temporários. Para lidar com desafios, novos hábitos, capacidade de superação e de adaptação são essenciais. Também devemos estar atentos ao presente, às oportunidades de novos aprendizados, permitindo-nos valorizar as coisas importantes da vida. Todas as estratégias elencadas aqui contribuem para o exercício e prática do otimismo.
Dica: Nos momentos em que você estiver se sentindo bem, escreva bilhetes para você mesmo com pontos positivos sobre a vida e releia-os quando precisar.
- Gratidão – A gratidão é uma emoção positiva associada a percepção de receber um benefício de outra pessoa, em virtude de boas intenções, pode ser direcionada também a fontes impessoais (como a natureza) e a sentimentos e sensações específicos. Sentir-se grato tem relação com a satisfação com a vida e quanto mais você pratica, maior a possibilidade de criar o hábito de agradecer. Dica: Ao final do dia, escreva em um caderno três coisas pelas quais você é grato e o motivo. Não precisa ser apenas coisas grandiosas. Isso te ajudará a prestar mais atenção aos acontecimentos positivos e a ser mais otimista.
Tente também o exercício de em qualquer atividade que você executar no seu cotidiano, pensar primeiramente naquilo que deu certo (que bom!!), se sentindo grato por isso e depois naquilo que poderia ter sido realizado de uma maneira diferente (que pena, fica para a próxima!!) e por último, aquilo que pode ser feito melhor da próxima vez (que tal?!).
- Quando sentir que o medo está intenso e que junto com ele aparece a ansiedade, pare o que está fazendo, respire fundo, observe as coisas ao seu redor ou faça algo que você goste.
Reflita e pratique alguns desses exercícios. Lembre-se: às vezes ficamos tristes e ansiosos, é normal!
Não existe a melhor estratégia, mas sim aquela que melhor se adequa a você e ao contexto em que se encontra. É importante flexibilizá-las, já que não são regras a serem seguidas com rigidez.
E SEMPRE QUE PRECISAR, PEÇA AJUDA!
Comissão Cuidado com os Servidores do Projeto Reencontro – C3
Referências:
BOEHS, S. de T. M.; SILVA, N. Psicologia Positiva nas organizações e no trabalho: conceitos fundamentais e sentidos aplicados. São Paulo: Vetor, 2017.
FRANKL, V. E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes, 1991.
NIEMIEC, R. M. Intervenções com forças de caráter: um guia de campo para praticantes. Tradução de Gilmara Ebers. São Paulo: Hogrefe, 2019.
RASHID; Tayyab; SELIGMAN, Martin. Psicoterapia Positiva: manual do terapeuta. Porto Alegred: Artmed, 2019.
SELIGMAN, M. E. P. Florescer: uma nova compreensão da felicidade e do bem-estar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2019.
SELIGMAN, M. E. P. Aprenda a ser otimista: como mudar sua mente e sua vida. Rio de Janeiro: Objetiva, 2019.
SILVA, Narbal; DAMO, Lílian Paula (orgs.). Vidas que mudaram: contribuições da psicologia positiva para situações de isolamento e de distanciamento social. Florianópolis: Editora da UFSC, 2020.
SNYDER, C. R.; LOPEZ, S. J. Psicologia Positiva: uma abordagem científica e prática das qualidades humanas. Porto Alegre: Artmed, 2009.