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Marielle presente: IF Sudeste MG lança hoje evento nacional centrado nos afrobrasileiros e indígenas
Instituição sediará em setembro o VII Encontro Nacional de NEAB, NEABI e grupos correlatos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica
Há exatamente 5 anos, 13 disparos calaram fundo a voz e provocaram a indignação de homens e mulheres negros, indígenas e pessoas brancas conscientes de seus privilégios e aliados na luta por uma sociedade menos racistas.
No dia 14 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e o motorista Anderson Gomes foram brutalmente assassinados. A motivação do crime ainda é desconhecida, mas há indício de se tratar de um crime político, por ser uma mulher negra, lésbica, que fez de sua trajetória política um palco para denúncia da violência do Estado contra populações marginalizadas.
“Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”, disse Marielle, 30 minutos antes de ser assassinada, em uma palestra para mulheres, frase emprestada da norte-americana Audre Lorde. E depois de cinco anos, muitas perguntas sobre o caso permanecem sem respostas, a principal delas: Quem mandou matar Marielle Franco?
O caso de Marielle, de João Alberto, do menino Miguel, casos célebres entre tantos outros desconhecidos em um país como o Brasil, em que o racismo estrutural mata. Diante dessa realidade, o papel das instituições de ensino torna-se fundamental como espaço de reflexão, resistência e reconstrução de uma educação antirracista para todos.
Com o tema A Rede Federal na Encruzilhada: entre resistências e reconstruções”, o IF Sudeste MG sediará no Campus São João del-Rei o VII Encontro Nacional de NEAB, NEABI e grupos correlatos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e VII ERAS (Encontro de Relações Raciais e Sociedade) que será realizado nos dia 14 a 16 de setembro de 2023. A programação ainda está sendo definida.
“A realização do ENNEABI no IF Sudeste MG mostra o quanto estamos trabalhando para assumir essas pautas históricas das populações invisibilizadas, permitindo por meio de ações afirmativas que essas populações negras, indígenas e quilombolas assumam um protagonismo na instituição”, ressalta o reitor Professor André Diniz que trouxe as ações afirmativas como uma de suas principais pautas de gestão.
A Comissão Organizadora tem como presidente a Pró-Reitora de Extensão, Professora Rosana Machado, primeira pró-reitora negra da instituição e é formada por mais de 40 servidores de institutos federais de diversas partes do país.
Em memória à morte de Marielle Franco, a Comissão Organizadora lança oficialmente nesta terça-feira, dia 14 de março, o site oficial do evento, bem como a identidade visual do evento. O evento conta ainda com o apoio oficial do CONIF (Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal).
Confira o site oficial do evento no link: https://www.even3.com.br/enneabi_eras2023
“Precisamos reconhecer o importante papel que esses núcleos de estudos afro-brasileiros e indígenas ( NEABs e NEABIs) tem dentro da Rede Federal. Fazemos parte de bancas de heteroidentificação, que dão acesso e direito às vagas por cotas raciais, promovemos projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão e ainda ações que visam combater o racismo institucional no ambiente escolar. Sediar esse evento nacional aqui será uma importante missão”.
Sobre o ENNEABI
O ENNEABI foi idealizado com o objetivo de criar um espaço coletivo e político de troca de experiências, debates, reflexões e formação capaz de agregar instituições e sujeitos de todo o Brasil que compõem a Rede de Educação Profissional e Tecnológica. Em uma busca constante e articulada para garantir a implementação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que tornaram obrigatórios o Ensino de História e Cultura Africana, Afro-brasileira e Indígena, mas também elaborar reflexões sobre as leis Lei nº 12.711/2012 (cotas para ingresso de estudantes nas instituições federais de ensino) e a Lei 12.990/2014 (cotas para ingresso no serviço público federal).
Desde 2015, já foram realizados seis encontros: Belém-IFPA (2015), São Luís-IFMA (2016), Campos dos Goytacazes – IFRJ (2017), Salvador-IFBA (2018) e Alagoas-IFAL (2019), ocasião em que se deliberou para que o VI encontro ocorresse no IFSP (2020), e que, devido à pandemia, ocorreu de forma remota. O VII Encontro Nacional acontecerá no período de 14 a 16 de setembro de 2023, nas dependências do Instituto Federal de Minas Gerais (IF Sudeste MG) - Campus São João del-Rei.
A proposta é que se possa discutir no VII ENNEABI o papel da Rede Federal nesse momento histórico que estamos vivenciando. Na sequência de um período de falta de investimentos em educação e políticas públicas pela igualdade racial, percebeu-se um aumento significativo no cotidiano escolar fenômenos excludentes, envolvendo a prática do racismo, da discriminação racial, de gênero, homofobia, bullying racista e desrespeito religioso, entre outras. Entende-se que tais práticas, ao longo do tempo, vêm prejudicando o acesso, permanência e sucesso escolar dos estudantes.
Nesse momento de retorno do Ministério da Igualdade Racial, cuja ministra é Anielle Franco, irmã de Marielle e a criação do Ministério dos Povos Indígenas, sob comando de Sônia Guajajaras, espera-se que novas políticas públicas apontem para ampliação do acesso às instituições de ensino públicas federais, em todas as modalidades e a defesa da equidade, da diversidade e do respeito nos ambientes acadêmicos.
Sobre a morte de Marielle Franco
As investigações culminaram nas prisões dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, apontados como autores dos dois homicídios —Lessa teria atirado nas vítimas, e Élcio dirigia o carro que emparelhou com o da vereadora. Entretanto, não há sinalização sobre quem arquitetou o crime.
O crime foi conduzido no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro. O carro em que estavam foi atingido por 13 disparos. A vereadora foi seguida desde a Lapa, no centro do Rio, onde participava de um encontro político.
Sobre Marielle Franco
Marielle nasceu em 27 de julho de 1979, filha de Marinete da Silva e de Antônio Francisco da Silva Neto. Cresceu no Conjunto Esperança, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio. Na adolescência, alternou momentos em que trabalhou com o pai, frequentou o grupo jovem da Igreja Católica e foi dançarina do grupo de funk Furacão 2000. Com 19 anos, tornou-se mãe de uma menina, Luyara Santos. Em 2005, perdeu uma amiga, baleada durante tiroteio na favela. A experiência acirrou o desejo de militar em defesa dos direitos humanos.
Marielle trabalhou como educadora infantil na Creche Albano Rosa, na Maré. Ingressou e se formou em Ciências Sociais, com bolsa integral, pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em 2014, fez mestrado em Administração Pública pela UFF (Universidade Federal Fluminense), com a dissertação “UPP: a redução da favela a três letras”. O texto trazia críticas à atuação das unidades de polícia na segurança pública.
Em 2006, Marielle fez parte da equipe de campanha na Maré que elegeu Marcelo Freixo (Psol-RJ) deputado estadual. Na sequência, foi nomeada sua assessora parlamentar. Depois, assumiu a coordenação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).
Em 2016, foi eleita vereadora da Câmara Municipal do Rio pelo Psol, com 46.502 votos, para a legislatura 2017-2020. Na época, foi a 5ª mais votada. Em fevereiro de 2018 foi escolhida como relatora de uma comissão na Câmara que iria acompanhar a atuação das tropas na intervenção federal no Rio de Janeiro.
Fontes:
https://www.poder360.com.br/brasil/morte-de-marielle-franco-completa-5-anos-relembre-trajetoria/
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2023/03/14/5-anos-marielle.htm