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Psicólogos do IF Sudeste MG compartilham informações sobre saúde mental na quarentena

A Organização Mundial da Saúde reforçou recentemente que as medidas de isolamento social continuam sendo a melhor alternativa para conter a propagação do novo coronavírus. Com toda essa quebra de rotina e a quarentena, é normal que muitas pessoas apresentem alterações emocionais.

Por Cheilon Camargo, Luciana Sarmento, Ludmila Pinho, Rejane Dutra, Roselne Santarosa e Vanessa Zanetti (psicólogos do IF Sudeste MG)

A Organização Mundial da Saúde reforçou recentemente que as medidas de isolamento social continuam sendo a melhor alternativa para conter a propagação do novo coronavírus. Com toda essa quebra de rotina e a quarentena, é normal que muitas pessoas apresentem alterações emocionais. Por isso, psicólogos do IF Sudeste MG informam a comunidade de estudantes, servidores e colaboradores sobre o que pode afetar nossa saúde mental e quais cuidados devemos tomar:


Quais os possíveis efeitos psicológicos diante da mudança de rotina e das restrições à mobilidade?
Este cenário inédito de pandemia da Covid-19 e as consequentes mudanças socioeconômicas e políticas, com modificações na rotina, afastamento social de entes queridos, de espaços de lazer e cultura, de espaços acadêmicos e laborativos, podem trazer sofrimento psíquico. No entanto, grande parte dessas reações é considerada normal perante uma situação atípica. Isso dependerá de diversos fatores: natureza e gravidade do evento; experiências anteriores em situações de crise; rede de apoio social; saúde física; histórico pessoal e familiar de saúde mental; cultura; idade.
Em situações semelhantes, ainda que em menor proporção, estão entre as manifestações mais comuns o medo (de adoecer e morrer; de perder ou ser separado de entes queridos; perder os meios de subsistência; transmitir o vírus); a confusão; uma espécie de letargia, ou seja, uma dificuldade de reagir e de expressar emoções; preocupação; irritabilidade; agressividade; problemas de adaptação diante de tantas mudanças ao mesmo tempo e de forma tão repentina; ansiedade, tristeza e angústia, sensação de perda de controle diante das incertezas e conflitos interpessoais.
Podem também surgir sintomas como dores de cabeça, cansaço, tremores, agitação, choro, alterações no sono e apetite, culpa e vergonha, dentre outros. Algumas pessoas, porém, podem manifestar insensibilidade ou indiferença frente a essa situação. Todas essas sensações podem ocorrer de forma leve, e grande parte dos indivíduos tende a se recuperar com o tempo, com o apoio de familiares e amigos e a adoção de algumas estratégias para lidar com as emoções.


Como servidores e alunos podem organizar sua rotina de trabalho e estudo em casa, de forma a impactar positivamente a saúde mental?
A quarentena impede que as atividades cotidianas sejam executadas da forma como são rotineiramente. Assim, a pessoa acaba desenvolvendo forte cobrança para ser útil como era antes. Não existe manual de como organizar as tarefas de trabalho e de estudo. Há diversos textos e vídeos, produzidos por profissionais das mais variadas áreas, circulando nas redes sociais. E cada um deles traz uma lista de atividades e uma série de regras. Isso, muitas vezes, tem gerado uma pressão nas pessoas, pois parece que há uma obrigatoriedade em produzir. Seguir as fórmulas de personalidades de redes sociais pode contribuir para sentimento de impotência e ansiedade.
Dessa forma, entendemos que, se há uma regra, esta é “fique em casa”. Regra que, por si só, tem sido fonte de muita pressão e angústia. O importante é que a pessoa se respeite e aceite as limitações individuais e sociais que estão acontecendo neste momento inédito para todos nós.
Mas, de modo geral, é interessante eleger um local apropriado em casa para realizar as atividades de estudos e de trabalho e explicar à família que precisa daquele momento para cumprir os trabalhos exigidos. É fundamental aceitar a própria realidade, fazendo apenas o que é possível. Uma lista elencando as tarefas em ordem de prioridade pode ser um bom começo. Atente-se que poderá ser necessário negar algumas demandas menos urgentes. Lembre-se: respeite o seu ritmo! 
Pais que ao mesmo tempo são cobrados para trabalhar em home office e para que seus filhos estudem em casa podem buscar alguma forma de flexibilidade entre os pares de colegas, com atividades em grupo e melhor divisão de tarefas.  
É recomendável fazer pausas durante o trabalho ou estudo remoto, de preferência em um local calmo e relaxante, e respeitar horários de refeições e pausas regulares para descanso ao longo do dia. Aproveite o momento para se conectar consigo mesmo e com os outros (inclusive os colegas de trabalho, para encontrar soluções), fazer planos para sua vida pessoal e profissional e, além de tudo, cuidar da saúde física e mental.


Como podemos cuidar da saúde mental durante a quarentena?
Algumas orientações podem evitar uma pressão ainda maior. É essencial ter informações sobre a doença e suas formas de contaminação, bem como os cuidados para a prevenção, pois, quando se tem um problema, antes de pensar em como resolvê-lo, é preciso conhecê-lo. Nesse momento, orientamos identificar as necessidades mais urgentes, priorizando-as e buscando resolvê-las, pois o gerenciamento de alguns problemas proporciona maior senso de controle da situação e fortalece suas próprias habilidades e recursos para lidar com eles.
Associar isso à aceitação de que todos estamos vivendo um momento de caos social e de que não se trata de uma condição individual é um passo significativo para manter a saúde mental. Fazer sua parte de ficar em casa, sem autocobrança, é atitude significativa e altruísta de prevenção da saúde individual, familiar e coletiva. Além disso, é possível prevenir o adoecimento com a adoção de estratégias de autocuidado. Tente reconhecer, respeitar e acolher seus medos, não tomar uma postura crítica e julgadora. Considere que outras pessoas podem estar se sentindo de forma semelhante. Não se culpe por isso; compreenda.
Procure amigos, familiares, pessoas de confiança para conversar e expressar suas emoções neste momento. Lembre-se: o distanciamento é físico e não afetivo! Em situações de crise, identificar apoios e manter relações saudáveis é extremamente importante para a saúde mental. Como somos seres sociais, temos necessidade de interação. Se não for possível interagir dentro de casa, por morar sozinho(a), por exemplo, utilize os meios de comunicação ou mesmo uma conversa à distância segura com outras pessoas próximas.
Indicamos também dedicar um tempo à realização de exercícios que ajudam a diminuir o nível de estresse, como leituras edificantes, ouvir música, tocar instrumentos musicais, meditação, exercícios de respiração e relaxamento. Atividades físicas também são importantes para evitar estresse e diminuir a ansiedade. Aproveite o momento para exercitar e estimular a empatia e solidariedade, pois fortalecem nossa saúde mental e aumenta o sentimento de pertencimento social e união.
Procure manter uma rotina, mas que ela seja flexível, separando horários para o trabalho, estudos, lazer, alimentação, sono e interação familiar. Caso tenha alguma crença espiritual ou religiosa, utilize-a para lidar com o sofrimento, dando significado e senso de esperança. Todas essas são possibilidades, mas devem ser realizadas apenas quando não forem geradoras de mais ansiedade, como é vivenciado por pessoas que se impõem a obrigação de realizá-las. Neste caso, procure algo que lhe motive mais.
É preciso também ficar atento às fake news, buscando fontes de informação confiáveis sobre a pandemia (canais de órgãos oficiais e autoridades sanitárias, como a Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde). Manter-se informado através de dados confiáveis é uma medida protetiva, mas o consumo excessivo de informações pode gerar estresse e ansiedade. Escolha, por exemplo, um horário para acessar informações, reduzindo o tempo que passa assistindo a e/ou ouvindo notícias e procure por informações e experiências exitosas.
Procure adotar estes e outros comportamentos saudáveis para lidar com as emoções, evitando usar estratégias que prejudicam a saúde, como o uso de cigarro, álcool e outras drogas, comer compulsivamente, automedicação ou dormir o tempo todo.


Em que momento se faz necessário um acompanhamento por um profissional?
Todos nós possuímos forças e habilidades para manejar os desafios da vida, porém alguns podem apresentar maior vulnerabilidade em momentos críticos, como este de pandemia, e precisar de mais ajuda. É difícil definir o momento. Cada ser humano é único e não há regras quanto a isso. Reações como medo, ansiedade, irritabilidade, angústia, letargia, entre outras, podem surgir, pois somos humanos e reagimos ao que nos acontece. Isso é natural, sobretudo numa situação de pandemia, como a que estamos vivendo.
É preciso avaliar a intensidade e frequência dessas reações, o histórico de cada um e a maneira como já enfrentava as adversidades, entre outros fatores. Quando os sintomas persistem e o sofrimento é intenso de forma a causar grandes dificuldades nas atividades do dia a dia e nas relações familiares, de trabalho e sociais, torna-se importante buscar apoio especializado. Além disso, faz-se necessário o acompanhamento profissional quando as reações psicossociais frente à pandemia coexistem com outros transtornos mentais, como os de ansiedade, depressão, alcoolismo, outras dependências, condutas suicidas etc.
É importante ficarmos atentos aos que estão ao nosso redor, mesmo que virtualmente, observarmos e sermos empáticos, oferecendo ajuda para buscar apoio psicológico quando necessário. O sofrimento prolongado pode vir a desencadear um adoecimento a médio ou longo prazo, caso não seja realizada uma intervenção qualificada. Essa orientação também é válida para outros momentos, não somente o de pandemia.
Gostaríamos de finalizar com a mensagem de que é importante que cada um, ao seu modo, vá descobrindo a melhor maneira de se adaptar e de vivenciar este momento, dentro do que lhe é possível fazer. Isso é de cada um! Logo, informe-se sobre a pandemia sem excessos, sobre quais serviços e suportes estão disponíveis e sobre questões de segurança e proteção (higienização e etiqueta respiratória). E tudo bem se você ficar nervoso e não conseguir cumprir tudo aquilo que havia lhe proposto. Respeite seu momento e seus sentimentos. Não lute contra, abrace-os e identifique formas próprias de lidar com eles.


Em época de quarentena, onde buscar esse apoio?
As psicólogas e psicólogos da Assistência Estudantil do IF Sudeste MG estão preparando diversas ações de acolhimento aos estudantes a serem desenvolvidas por meio das tecnologias de informação e comunicação. Já os servidores podem entrar em contato com a Coordenação de Atenção à Saúde e Segurança do Trabalho pelo e-mail cas@ifsudestemg.edu.br.

Há também diversos serviços de acolhimento e apoio emocional, mesmo a distância:
Relações Simplificadas
Cetepo Brasil
Mapa do Acolhimento
Núcleo de Estudos e Trabalhos Terapêuticos
Escuta Aberta
Acolhe o Momento: acolheomomento@gmail.com (grupo de psicólogas voluntárias; informe por e-mail o número telefone, e a equipe retornará)
ILPC - Acolhimento e Escuta
SOS Apoio Emocional (BH)
Psicólogos contra o Covid-19
Grupo de Envelhecimento do Laboratório de Neurociência do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (para maiores de 60 anos): entre em contato por grupopsicorpo@gmail.com
CVV - Centro de Valorização da Vida (telefone 188)
Liga Nacional de Atendimento Psicológico Social Online
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro


Produção: Bianca Alvin
Edição: Daniel Leite

 

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