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Caio Fernando Abreu é tema de livro publicado por professora do Núcleo de Línguas

Mírian Gomes de Freitas discute a obra do autor a partir de reflexões sobre alteridade e identidade

Quem é o outro? Quem sou eu? Estas foram as perguntas que nortearam a poeta e professora Mírian Gomes de Freitas, no Núcleo de Línguas, na pesquisa que deu origem ao livro “Caio Fernando Abreu: uma poética da alteridade e da identidade” (Editora CRV, 300 páginas). A obra é fruto de sua tese de doutorado em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2017, e analisa a produção do autor com base em sua vida, identidade e visões de mundo.

As personagens de Caio Fernando Abreu refletiam aspectos de sua própria identidade. Irreverente e intenso, o autor era uma pessoa sem pertencimentos e sem definições. Momentos históricos como a ditadura militar, a contracultura, a revolução sexual e a luta contra a AIDS, tiveram grandes impactos em sua vida e sua produção artística, como aponta Mírian. “As experiências e sentimentos que Caio vivenciou entre os anos 60 aos 90 estão representados em uma escrita que se desloca de seu centro para a margem delicada dos afetos”.

Livros como Morangos Mofados (1982) e O Ovo Apunhalado (1975) são expoentes de uma produção desdobrada em personagens anônimos, estrangeiros, desconhecidos e ambíguos. São nessas identidades indefinidas que a pulsão de vida se revela em sua obra, e foi nesse sentido que a pesquisa se desenvolveu, buscando evidências e fatos que esclarecessem mais sobre essas questões. 

“Neste livro procurei apresentar Caio como ‘o biógrafo das emoções pós-modernas’, tarefa que o autor cumpriu por meio de sua literatura, que biografou, fotografou e representou cada geração vivenciada por ele.” Através de sua produção, profetizou um Brasil aprisionado pelo conformismo, pelo fascismo e pela violência sistêmica. Para a pesquisadora, a obra de Caio Fernando Abreu será sempre atual, contemporânea, marcando um olhar atento à realidade e à presença de uma voz que é engajamento e fé, o que a faz ser considerada um dos grandes expoentes da literatura brasileira. 

Da literatura à academia

Caio Fernando Abreu é um dos mais importantes autores da literatura brasileira. Nascido em Santiago do Boqueirão (RS), viveu a maior parte de sua vida entre Porto Alegre e São Paulo. Como jornalista, trabalhou  em alguns dos principais veículos de comunicação do país e sua obra literária foi difundida ao redor do mundo através de traduções, peças teatrais, documentários, filmes e livros. Dandy, punk, hippie, gay, nômade, queer. Através de todas as facetas de sua personalidade e de seu compromisso em ser quem verdadeiramente é, vem influenciando e cativando gerações de leitores e escritores. 

Uma dessas pessoas foi Mírian, que tocada por seus textos, decidiu orientar sua formação no doutorado para pesquisar sobre o escritor, num processo longo e trabalhoso que levou mais de seis anos. Além da consulta a fontes, referências bibliográficas e entidade de direitos autorais, a autora reuniu imagens icônicas e inéditas de Caio Fernando Abreu tiradas por nomes como Bob Wolfenson, Juvenal Pereira, Marcos Santilli, Adriana Franciosi e Paulo Giandalia.  “Para mim, este mergulho intenso na obra literária de Caio Fernando foi um grande aprendizado. Considero até mesmo um desdobramento do meu próprio autoconhecimento”, coloca.

A obra literária de Caio Fernando Abreu tem sido obrigatória nas salas de aula e nos programas dos vestibulares seriados das universidades brasileiras. Para Mírian, é urgente sua leitura, tanto para a compreensão e aceitação das experiências pessoais, como para o aprimoramento da própria vida acadêmica. “Seu espírito irreverente, militante e esperançoso está sempre representado pelos jovens e podemos observar isso claramente em suas personagens, que resistem às investidas ditatoriais do regime militar e de um puritanismo brutal numa sociedade impiedosa e preconceituosa.” A literatura de Caio dialoga com a juventude hoje pela resistência, luta, fé e pela quebra de paradigmas, conclui. 

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