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Dia dos Professores: educação é compreensão

Na educação, a comunicação é fundamental. As experiências de Helen Barra e Dayane Campos mostram como ouvir e ler moldam nossa compreensão do mundo. Professores, ao facilitar essa comunicação, transformam a visão de mundo dos alunos.

A leitura do mundo precede a leitura da palavra

“Eu não me lembro de me sentir à vontade numa sala de aula; a figura do professor nos remetia à distância e medo - isso era tudo o que eu não queria fazer”, confessa a professora Helen, relembrando o seu início no curso de magistério, aos 15 anos. 

Hoje, quem passa próximo à sala de música do Campus JF e depara-se com alunos tocando e cantando em alto e bom som está longe de remeter a figura da professora ao medo - e mais distante ainda de vê-la de outra forma que não como educadora. 

A máxima de Paulo Freire, 'A leitura do mundo precede a leitura da palavra', guia o processo de educação crítica, que parte das necessidades do aluno. Para Freire, compreender a bagagem cultural dos alunos é vital. Esta leitura de mundo é o alicerce para reescrever a educação, valorizando as perspectivas dos estudantes e transformando coletivamente suas experiências.

“[...] É que ensinar a ler é engajar-se numa experiência criativa em torno da compreensão e da comunicação”
Paulo Freire - Carta aos professores

 Helen cresceu em meio a musicistas, apaixonou-se pelo piano e dedicou-se aos estudos de música clássica: "Música

Helen Barra de Moura em sala de aula. Foto: Mariana Souza
pra mim era Chopin, o resto era resto!", brinca. Ao iniciar a carreira docente na rede municipal de Juiz de Fora, a professora descobriu, porém, que só com este resto era possível constituir um todo: "O professor deve entender os alunos, não apenas repetir o que aprendeu. Para me conectar com os alunos comecei a fazer alguns festivais de funk.", relembra. 

O baile deu certo e o som ressoou dentro e fora de sala - a partir de 1998, Helen coordenou projetos de educação musical dentro e fora da cidade, voltados à crianças de zonas rurais e periféricas e à formação de novos professores: "É como educar o olhar, enxergar novas oportunidades, revelar a possibilidade de sonhar em poder ser outro", enfatiza a professora que, por meio da música, os alunos não apenas aprendem, mas também se transformam. 

O trabalho que a professora realiza com as turmas do Campus JF desde 2018 transcende o visível: "Estamos trabalhando na dimensão do sensível e o resultado é o respeito, o amor, a autoestima.", tentando concretizar o abstrato, a professora sintetiza: "Tem coisas que eu não sei explicar - a gente sente o resultado! Resta a nós saber a responsabilidade que temos nas mãos".

Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente - mas gratificante

 

Dayane Campos, professora de português e espanhol no Campus JF. Foto: arquivo pessoal
"Eu sempre me senti presa, limitada ao lugar em que nasci”. Dayane conheceu a escola aos 6. A palavra literatura aos 15 e saiu da zona rural de Minas Gerais aos 16 - entre o vai e vem nas mudanças da infância, a professora mantinha ao seu lado o mundo que, aos poucos, transformava as suas palavras. "Nos livros o tempo era suspenso e eu estava lá com os personagens; podia imaginar.", reflete sobre o primeiro sentimento de liberdade proporcionado pela literatura.

 Ainda no pensamento freiriano, o professor discute que, antes de tudo, a atividade docente passa obrigatoriamente pelo estudo - a tarefa humilde de assumir o desconhecido.   

A paixão pelos livros surgiu de forma orgânica, já a vocação para a docência, foi lapidada - em 2004, quando pisou numa sala de aula pela primeira vez como estudante de Letras, é que compreendeu a beleza de despertar nos outros a mesma paixão que possuía pelo conhecimento. "A educação é o único caminho que eu conheço para termos um mundo melhorzinho", brinca num otimismo contundente.    

"Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante. Ninguém lê ou estuda autenticamente se não assume, diante do texto ou do objeto da curiosidade a forma crítica de ser ou de estar sendo sujeito da curiosidade [...]".
Paulo Freire - Carta aos Professores

 

Paixão esta que também foi semeada por outras referências - durante a entrevista, Dayane relembra com carinho o amigo Vavá que lhe emprestava diversos livros e a primeira professora de português, Ilda, que sempre a levava à biblioteca: “Até cortei a franja para ficar igual a ela. Meu sonho era que fossemos parecidas.”, relembra. 

"Eu tenho certeza que você vai se identificar com esse livro!", conta Evelyn Badoco, do 3º ano de Desenvolvimento de Sistemas, sobre o primeiro livro que recebeu da professora Dayane. "A história era sobre uma menina que só teve a oportunidade de estudar aos 17 anos - ela vai para longe e abre mão de muitas coisas para seguir os seus sonhos.”.

Dayane e a filha Sofia. Foto: arquivo pessoal

A aparência da professora Dayane, ao longo do tempo, partiu para mais próximo da generosidade do amigo Vavá do que a desejada franja de Ilda - sua fama é a de “emprestadora de livros”, já que, desde 2018, apresenta alguns títulos preferidos da sua coleção pessoal e deixa-os entre os estudantes. “É uma maneira simples, mas que pode transformar mentes e corações.”, comenta Evelyn - uma das mais beneficiadas pela ação. 

 “O aluno se sente especial e visto ao receber um livro das nossas mãos - eu adoraria receber estes presentes na minha época escolar, e é isso que tento fazer”, justifica a professora sobre a sua colaboração para um mundo “melhorzinho”.

“Meu sonho é ser aprovada na faculdade em Belo Horizonte - expandir o meu mundo; e a Dayane é quem me ajuda a sonhar cada vez mais alto”, finaliza Evelyn.

 São para sonhos cada vez mais altos que a educação é exercida todos os dias no Campus JF - numa relação conjunta entre professores e alunos em torno da aprendizagem e no desbravamento do mundo que nos aguarda lá fora. Aos professores que tornam estes caminhos possíveis, deixamos mais do que os parabéns - deixamos o nosso eterno agradecimento. O caminho continua sendo trilhado! 

 

Por Fábio Kelbert, estagiário em jornalismo sob supervisão de Laura Chediak.