Intervenção artística "Assum preto" transforma objetos em obra caótica

O hall de entrada do Campus Juiz de Fora está recebendo uma exposição artística que desafia a percepção dos expectadores e leva a refletir sobre as transições entre o tridimensional e o bidimensional, entre o plano material e o imaterial, a presença e a ausência, a luz e a sombra, a vida e a morte. Intitulada "Assum preto", a mostra é uma colaboração entre Bruna Tostes, da Prefeitura de Juiz de Fora, e Fabrício Carvalho, do Instituto de Artes e Design da UFJF, concebida especialmente para Secitec 2023.

A peculiaridade desta intervenção reside no uso de móveis encontrados no depósito da instituição, objetos que estavam danificados e sem planos de recuperação. As peças, que um dia fizeram parte do ambiente institucional, foram substituídas por outras mais modernas ao longo do tempo, sendo consideradas obsoletas. Porém, ao invés de permanecerem relegados ao esquecimento, foram desmontadas, pintadas e suas partes reordenadas em um campo visual, assemelhando-se a um desenho experimentado de modo tridimensional.

Ao visitar a exposição, os espectadores são instigados a tentar identificar e reconstruir mentalmente os objetos originais através das partes familiares. No entanto, essa tarefa é dificultada pelo movimento caótico e precário da construção, desafiando a capacidade de reconhecimento e a percepção visual.

O título "Assum preto" faz referência ao pássaro homônimo que, na famosa música de Luiz Gonzaga, teve os olhos furados por maldade ou ignorância, na tentativa de fazê-lo cantar melhor. Incapaz de ver a luz, o pássaro canta de dor e lamenta sua sina, desejando ao menos poder olhar a luz uma vez. Essa metáfora ressoa na intervenção artística, convidando os espectadores a refletirem sobre temas profundos relacionados à limitação, sacrifício e desejo de transcendência.