Ensino
Racismo estrutural é tema de comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra
Acabar com o racismo estrutural que insiste em existir em nossa sociedade. Este foi o foco do evento comemorativo ao Dia Nacional da Consciência Negra no Campus Rio Pomba. A atividade contou com a apresentação do Coral Vozes do Vale, de palestras sobre questões étnico-raciais e mostra de vídeos. “Em uma época em que a negação do racismo ganhou força, temos que trazer à tona este tipo de reflexão e problematização”, explica um dos organizadores, o professor de Sociologia Urias Gonçalves.
O evento, realizado no dia 20 de novembro no Salão Nobre, começou com a apresentação dos membros do projeto de extensão Música no Campus. O Coral entoou sambas e canções com influência da black music, como Olhos Coloridos, de Sandra de Sá.
A segunda parte foi voltada para apresentação de temas ligados à temática étnico-racial. O doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais e professo do Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Avançado Ponte Nova, José Costa, foi o responsável pela abertura. Ele ministrou a palestra “É possível um racismo sem racistas?”. Para responder ao título de sua apresentação, mostrou uma pesquisa feita pelo Latinobarômetro. A organização questionou os brasileiros sobre a existência do racismo no país. Noventa por cento considerou que ele existe. Ao perguntar se o entrevistado era racista, 96% disse que não. “Como pode existir o racismo se quase ninguém se considera racista”, ponderou.
Ele explicou que o Brasil vive um racismo estrutural, que é aquele que está na base da sociedade, mas que as pessoas fingem não ver. “Dizem que a escravidão acabou lá atrás, que não há mais problemas raciais em nossa sociedade. Estamos conectados a uma situação que passou, mas que, na verdade, não passou. O fato de usarmos o termo cabelo ruim ou eu ter que ouvir que sou doutor em Filosofia, mas meu pai é negro demonstram que o racismo existe intrínseco em nossa sociedade”.
Maracatu
Em seguida, as estudantes do Campus e membros do Maracatu Baque do Vale, Fernanda Dias e Fernanda Pelegrino, falaram sobre o surgimento da manifestação cultural como forma de manutenção da cultura negra. “Para que deixassem as religiões africanas de lado, Nossa Senhora do Rosário foi designada como a santa protetora dos negros. Eles passaram a cultuá-la, mas comemorando a sua maneira”, explicou Thaís, lembrando que a festa inclui instrumentos típicos dos cultos da África. “O maracatu de baque virado tem muito do candomblé. Os instrumentos que usamos estão ligados aos orixás. Tentando camuflar sua cultura, eles arrumaram uma forma de não perderem suas origens”.
Estudo de história e cultura afro-brasileira
O servidor do Campus e estudante do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica, Germano Menezes, deixou de lado o material que havia preparado para poder falar sobre sua experiência como professor e diretor na rede pública estadual de ensino. “Quando cheguei à escola, observei que as turmas mais fracas costumavam ficar no fundo do corredor. Elas eram compostas por alunos negros e pobres. Uma das primeiras ações que tomamos foi tentar integrar este grupo. Sabemos que o Estado os abandonou, não podíamos fazer o mesmo”.
Hoje ele estuda a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira nos ensinos fundamental e médio. Já pôde observar que a legislação não é cumprida como deveria. “Temos que olhar os currículos escolares e identificar os temas ali. Não adianta fazer apenas um evento. É preciso ter ações durante todo o ano”, concluiu.
Heteroidentificação
Para finalizar o ciclo de palestras, a professora de Português e membro da Comissão de Heteroidentificação do IF Sudeste MG, Marcela Zambolim, falou sobre o trabalho desenvolvido pela equipe durante concursos e Processos Seletivos. Ela explicou que a comissão foi montada para evitar fraudes e dar transparência aos processos. “Para que uma pessoa tenha direito à vaga como cotista é preciso que ela se identifique como negra ou parda e a sociedade também a veja assim”. Ela explicou que os membros da banca analisam características fenotípicas, não levando em consideração a ascendência. Apesar de o foco ser cor da pele, textura do cabelo e formato do rosto, os membros também buscam informações da história social e cultural do candidato que demonstrem o “como ele é visto pelos outros”.
Ao final das apresentações, foram exibidos vídeos elaborados pelos estudantes das turmas de 1º e 2º anos dos cursos técnicos integrados sobre a temática racial.