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“A Extensão e a Pesquisa entram na categoria aula”: simpósio sobre curricularização traz experiências do IFC ao IF Sudeste MG
No seu campus ou curso, a Pesquisa e a Extensão aparecem como atividades complementares? Elas demandam algum “extra” do estudante e, por isso, nem sempre são acessíveis a todos? Se a resposta foi sim, este(s) curso(s) deve(m) passar por uma curricularização: processo de integração que se baseia na indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão, levando em conta que a construção do conhecimento não deve ser segmentada; deve ser trabalhada de forma coletiva e colaborativa por sujeitos ativos (assim como preconizava o educador Paulo Freire).
Sinalizada desde muito cedo na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), na Lei de Criação dos Institutos Federais e até na própria Constituição Federal, pode-se dizer que o assunto não é exatamente uma novidade. No IF Sudeste MG, diversas ações já puseram a curricularização em evidência, mas ela está longe de ser um processo rápido ou fácil. Assim, dada a sua importância, promete ser um tema a permear o cotidiano dos servidores da instituição, sem data para sair.
No dia 4 de maio de 2023, a instituição avançou rumo à concretização desta integração: foi realizado, no auditório do bloco administrativo do Campus Juiz de Fora, o simpósio “Curricularização da Pesquisa e da Extensão: motivação e caminhos a seguir” – evento voltado a todos os campi, com objetivo de capacitar e aproximar servidores da prática da curricularização. Tal capacitação viabilizaria um conseguinte “repensar” de projetos pedagógicos de curso (PPCs) e uma reformulação destes, de maneira que a Extensão e a Pesquisa “entrem na categoria aula”, como definiu o pró-reitor de Extensão do Instituto Federal Catarinense Fernando Taques.
Convidados a abrilhantar o simpósio devido a sua vivência em processos de curricularização, Taques e as pró-reitoras de Ensino e Pesquisa da mesma instituição, Josefa Surek e Fátima Zago, representaram a longa trajetória do Instituto Federal Catarinense (IFC) na cultura da indissociabilidade. Durante seus discursos aos servidores do IF Sudeste MG, os três já demonstravam uma efetiva integração entre si e os três pilares, compartilhando experiências sob diferentes perspectivas, expondo conceitos, estratégias e dicas que se complementavam. Apresentaram exemplos práticos de cursos nos quais a curricularização se materializou naquela instituição e levantaram questões-chave do processo, algumas das quais estão mencionadas na sequência desta matéria.
A abertura do evento foi feita pela pró-reitora de Extensão do IF Sudeste MG, Rosana Machado, que também compôs a mesa de honra junto ao reitor André Diniz, a diretora-geral do Campus Juiz de Fora, Cláudia Coura, e pró-reitores de Ensino e Pesquisa, Wilker Almeida e Maurício Louzada. Em sua fala, o reitor destacou a ideia da indissociabilidade no processo de ensino-aprendizagem e a importância da instituição manter-se firme em seu propósito maior. “Eu sempre tive muito claro o que queríamos para o IF em termos de áreas finalísticas. E venho repetindo isso ao longo do tempo porque é preciso ir reforçando: o projeto [referindo-se à missão dos institutos federais] permanece e estamos trabalhando em cima dele. A cada passo que a gente dá, é uma vitória. Hoje é um desses dias.”
A trajetória do IFC
Segundo o conceito adotado no IFC, curricularizar a extensão e a pesquisa é executar ações interdisciplinares, de caráter educativo, cultural, científico, político e inovador, como carga horária curricular obrigatória para a integralização do curso. Tudo isso sob a perspectiva da construção de conhecimento e/ou da transformação social na comunidade onde estão inseridos os campi da instituição em questão. Mas como o IFC fez isso?
Segundo seus gestores, o IF Catarinense aprendeu muito a partir de diálogos coletivos, abertura que consideram essencial. Entre as diversas etapas até a elaboração de uma resolução que normatizasse a curricularização no IFC, houve consultas públicas, discussões e outras ações, incluindo o estudo dos PPCs de cursos técnicos e de graduação. Dessa maneira, coordenadores puderam visualizar oportunidades dentro de seus próprios casos, considerando que, na maioria deles, já existe na grade algum “gancho” para a curricularização. Segundo Josefa, e é este o exercício que precisa ser feito: “enxergar em nossos cursos os espaços que já existem para a Pesquisa e a Extensão e expandi-los.” Ela detalha que, muitas vezes, isso é feito a partir de experiências “vizinhas” e relembra: “olha, neste curso fizeram assim, será que também não seria interessante pra vocês?”
Fátima conta que a primeira experiência de inserção da Pesquisa e da Extensão no currículo o Ensino Médio (à época não havia a modalidade integrada) foi permeada por discussões e divergências. “Isso não é Pesquisa”, disse a pró-reitora da área, referindo-se ao que ouviu durante uma conversa. Depois de muitas reuniões e estudos, conseguiram inserir a iniciação científica nos anos iniciais do currículo e atividades extensionistas, ao final. No caso destas, havia uma preocupação em trabalhá-las especialmente nos cursos de natureza agrícola, portanto, a instituição começou muito cedo a integrar a Pesquisa e a Extensão ao Ensino cedo, sem nem saber como este processo viria a ser denominado. ”Nossa vivência fez com que encontrássemos estratégias e caminhos para curricularizar”, resumiu.
Estratégias
A Resolução nº 13/ 2022, do Conselho Superior do IF Catarinense, apresenta estratégias para a curricularização da Pesquisa e da Extensão. O documento sugere ações destas áreas sejam inseridas:
- como disciplina específica;
- como parte da carga horária de disciplina;
- como atividade acadêmica, composta de ações de extensão e pesquisa nas modalidades previstas no art 4º, devidamente cadastradas na instituição.
Ao contrário do que se possa imaginar, a curricularização não implica a eliminação de atividades complementares de Pesquisa e Extensão. Ao contrário: estas continuam tendo seu lugar e não concorrem com a Pesquisa e a Extensão inseridas no processo formativo básico.
Sobre ações extensionistas, Taques reiterou que elas se materializam nas mais diversas formas: eventos, oficinas, projetos ligados a comunicação, cultura, educação, direito, justiça social, meio ambiente, entre tantas outras. “O aluno não precisa sair do curso sendo um ‘super pesquisador’ ou um ‘super extensionista’” alertou, mas precisa ter a oportunidade de contato com estas experiências. Assim, até as ações consideradas mais simples importam. “Não é necessário romantizar”, destacou.
Quanto à Pesquisa, Fátima enfatiza o básico da atividade científica: “que o aluno tenha acesso a essa problematização, à busca por respostas, à criticidade... de preferência sobre temas relacionados à sua realidade”. Ela acredita que isso incentiva os próprios docentes a saírem de eventuais zonas de conforto e aponta a curricularização como responsável por uma integração generalizada, porém, gradual. Para ela, trata-se de uma construção cultural demorada: “Metamorfoses individuais e coletivas para se construir algo que acreditamos”, definiu. Sobre isso, a colega Josefa complementou: “Educação é isso: pensar, repensar e evoluir”.
Imagens: Assessoria de Comunicação - IF Sudeste MG - Campus Juiz de Fora