Ensino
IF Sudeste e Campus Santos Dumont negociam parceria com empresa de Moçambique
A empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), responsável pela gestão dos sistemas ferroviário e portuário do país africano, tinha uma equação a resolver. Muitos de seus profissionais possuem vasto conhecimento adquirido a partir da experiência, mas não uma qualificação formal em sua área de atuação. A equipe de Recursos Humanos da CFM iniciou, então, uma busca por uma organização que pudesse ajudá-la a resolver a questão. Nesta semana, três representantes da empresa pública moçambicana vieram ao Brasil para negociar uma parceria com a instituição escolhida por eles: o Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, mais especificamente o Campus Santos Dumont.
Com cerca de 28 milhões de habitantes, Moçambique tem o Português como língua oficial. Some-se a isso a expertise do Campus Santos Dumont no segmento ferroviário, com um curso técnico (Manutenção de Sistemas Metroferroviários) e um de graduação (Engenharia Ferroviária e Metroviária), algo bastante raro no Brasil, e configura-se a oportunidade perfeita. Nesta semana, o diretor de Recursos Humanos da CFM, Ório Simão Benzane, o coordenador de Formação Profissional em nível nacional, Assane Alexandre Pinto, e o coordenador do Centro de Formação do CFM-Centro (na cidade de Beira), Daglasse Paulino Machava, participam de uma extensa programação de atividades em Juiz de Fora e Santos Dumont para obter mais informações sobre o IF e encaminhar a parceria, que será efetivamente formalizada nos próximos meses.
O pré-acordo entre a empresa e o IF estabelece três etapas iniciais. Dois professores do núcleo de Ferrovia do campus e o diretor de Relações Internacionais e Interinstitucionais do IF Sudeste MG, professor Daniel Augusto de Oliveira, farão uma visita à empresa em Moçambique – a convite da CFM – provavelmente no primeiro semestre de 2020 para entender melhor as necessidades dos profissionais e as condições que a organização oferece. Em seguida, um grupo de profissionais moçambicanos fará um curso de curta duração oferecido pelo Campus Santos Dumont, com conteúdo relacionado a Ferrovia e didática (para que sejam também multiplicadores do conhecimento no país africano), deixando aberta a possibilidade de posteriormente cursarem outras formações, em diferentes modalidades. Em contrapartida, a partir de 2021, anualmente até cinco alunos dos cursos do segmento ferroviário do IF farão estágio de férias, em janeiro e fevereiro, na CFM em Moçambique.
Houve reunião na Reitoria do IF Sudeste MG na segunda-feira, a primeira visita a Santos Dumont na terça - quando conheceram mais profundamente o trabalho desenvolvido pelo Campus Santos Dumont, apresentado pelo diretor-geral, professor André Diniz - e o encontro que encaminhou a parceria, além de uma palestra conduzida pelo grupo sobre Moçambique e a CFM a alunos e servidores do campus, na quarta. A programação de atividades seguiu com visita à MRS Logística na manhã de hoje e se encerra na sexta-feira, com uma nova conversa na Reitoria e ida ao Campus Juiz de Fora. Todas as atividades têm o apoio da Direção de Relações Internacionais e Interinstitucionais. Trata-se, aliás, da primeira parceria do IF Sudeste MG com uma empresa pública estrangeira, o que ratifica a relevância desta oportunidade.
As visões de Moçambique e Santos Dumont
“Precisávamos valorizar profissionais que já estão há muito tempo conosco, oferecendo a competência teórica, porque até hoje a evolução na carreira profissional está associada ao grau de escolaridade”, explicou Assane. “Foi um encontro maravilhoso aqui no IF. O acolhimento superou todas as nossas expectativas, e esse pré-acordo de fato vai satisfazer os nossos desejos. Vamos submeter, claro, ao nosso Conselho de Administração, para que de fato consigamos implementá-lo”.
“Estamos pensando em cursos FIC (Formação Inicial e Continuada)”, acrescentou Assane, “mas também em graduação e pós-graduação (vale lembrar que um dos projetos do Campus Santos Dumont para os próximos anos é uma pós-graduação em Engenharia Ferroviária e Metroviária). Ainda vamos estudar as modalidades, o que podemos fazer presencialmente e a distância. Mas a ideia é elevar o nível de conhecimento de trabalhadores, formadores e gestores, com uma capacitação pedagógica também”.
“A proposta é já oferecer os cursos de formação a partir do ano que vem, pois eles precisam com certa urgência”, revelou o professor Philipe Pacheco, “mas toda a documentação exigida pela Procuradoria do IF Sudeste MG ainda será elaborada. Teremos uma carta de intenção entre as duas instituições, com o apoio da nossa Diretoria de Relações Internacionais e Interinstitucionais, que vai prever as contribuições de cada parte, com abertura para novas possibilidades também. Em seguida o documento será assinado pelo presidente da empresa e pelo reitor (do IF Sudeste MG, professor Charles Okama). A visita a Moçambique será muito importante, para conhecer a realidade da CFM e dos profissionais e, então, criar o melhor curso possível para eles. Mas já sabemos que a empresa tem uma grande preocupação com o lado social, o que é muito bom”.
“Pensando institucionalmente, seria a primeira parceria desse tipo do IF Sudeste MG. Isso agrega conhecimento aos professores, que vão ter contato com uma nova realidade em Moçambique (quanto aos sistemas de portos e ferrovias), gerando também pesquisa e extensão aqui no IF. Para os alunos que forem estagiar lá, é algo único, a chance de conhecer uma cultura e uma organização diferentes. Então, esse intercâmbio de conhecimento será muito importante para a formação deles, trazendo algo para cá ou até continuando na empresa. O mais importante para a gente nas tratativas foram os alunos”, concluiu Philipe.
Museu de Cabangu
Os representantes da CFM também reservaram algumas horas de sua jornada brasileira à cultura e à memória. Acompanhados por servidores do Campus Santos Dumont e pelo professor Daniel Augusto de Oliveira, eles visitaram o Museu de Cabangu na tarde de terça-feira. A diretora da Fundação Casa de Cabangu, Mônica Castello Branco, e a coordenadora do curso técnico em Guia de Turismo do IF, professora Izabel Rodrigues, conduziram o guiamento.
A experiência comprovou o poder transformador da preservação da memória e do legado de alguém com a trajetória de Alberto Santos Dumont. “Passamos a ter o conhecimento e o domínio de quem foi o Santos Dumont. Uma coisa é ler sobre ele, outra é vivenciar, desde as cartas até os seus bens, e as pessoas responsáveis ajudaram muito na nossa visita. A senhora Mônica (Castello Branco) é muito didática. Foi muito interessante ver a réplica do 14-Bis. Isso é fundamental para as gerações seguintes, para aprimorar aquilo que foi criado por ele”, avaliou Assane, que também destacou a relação que o povo moçambicano tem com os museus.
“Temos, por exemplo, o Museu Nacional da Moeda (que reúne 4300 moedas já utilizadas na África Austral, sendo 1000 de Moçambique), o Museu da Revolução (que preserva, sobretudo, elementos relacionados à Independência de Moçambique) e o Museu de História Natural de Moçambique, todos na capital Maputo. É um país onde o Turismo é predominante, e as pessoas vão sempre buscar informações. A única forma de obter a verdade é nos museus”, completou o responsável pela formação profissional em nível nacional na CFM.