Sistema desenvolvido no IF para automatizar reanimador recebe avaliações técnicas positivas

O reanimador manual, também chamado na área da Saúde de "ambu" (do inglês Artificial Manual Breathing Unit - Unidade de Respiração Manual Artificial), é um recurso utilizado no primeiro atendimento a pacientes com insuficiência respiratória. No entanto, como o próprio nome sugere, ele depende da intervenção de um profissional, que precisa operá-lo manualmente de forma constante para garantir a ventilação. A automatização desse processo é o objetivo de um projeto executado desde 2020 pelo Campus Santos Dumont do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG). Em fevereiro, a ação de extensão deu mais um passo para prestar uma importante contribuição à sociedade. 

Coordenado pelo professor Luciano Gonçalves e com a participação de outros docentes orientadores (Luciano Biazutti e José Henrique Chaves), alunos bolsistas (Larissa Duarte, Jonathan Trovato e João Vitor Oliveira) e da técnica em Enfermagem Elaine Belchior (colaboradora externa), o projeto desenvolveu nos últimos meses um protótipo de um sistema eletromecânico para automatizar o ambu. No último mês, ele recebeu avaliações técnicas positivas, com indicação para a fabricação do equipamento, de duas bancas: uma formada por profissionais de Saúde e outra por engenheiros eletricistas e mecânicos. 

Atendendo às normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as próximas etapas previstas pelo projeto são a realização de ajustes sugeridos e o estabelecimento de uma parceria com uma empresa credenciada, que se responsabilizaria pela produção do equipamento. Em seguida, após os testes finais e a validação clínica, ele seria efetivamente oferecido ao sistema público de Saúde em Santos Dumont, para aproveitamento em hospital, ambulância, pronto-socorro e outros contextos de atendimento emergencial. 

"Dependendo do tempo em que você opera o ambu (não automatizado)", descreve a técnica em Enfermagem e colaboradora do projeto Elaine Belchior, deixando clara a importância do sistema eletromecânico, "o braço começa a doer, e o profissional não tem mais a mesma força e a mesma eficiência no procedimento. Uma máquina tem sempre o mesmo ritmo e a mesma pressão". 

"Não só em relação à Covid-19, mas em outros casos a automatização seria até mais necessária, como uma parada respiratória ou cardiorrespiratória. Para o profissional de Saúde que atua no Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), por exemplo, o que é mais necessário são as suas mãos (livres), e você consegue carregar esse dispositivo", conclui a técnica em Enfermagem em depoimento durante apresentação no III Simpósio de Ensino, Pesquisa e Extensão do Campus Santos Dumont. 

Melhor qualidade no atendimento

Conforme orienta a Resolução de Diretoria Colegiada nº 386 da Anvisa, de 15 de maio de 2020, uma das bancas avaliadoras foi formada por um médico intensivista e um anestesista, além de outros quatro profissionais de Saúde convidados: dois enfermeiros, uma técnica em Enfermagem e uma fisioterapeuta. 

Os laudos emitidos indicam a viabilidade do sistema no atendimento a pessoas com insuficiência respiratória aguda, parada cardiorrespiratória e em pré-ventilação mecânica, substituindo o esforço repetitivo do profissional e oferecendo-lhe melhores condições para monitorar a ventilação. Em alguns dos quesitos analisados, foram recomendados testes em pacientes para uma avaliação mais aprofundada (o que poderá ser feito após a fabricação do equipamento de fato). Outra sugestão foi a redução do peso da máquina.

A fisioterapeuta Daniela Tavares, que participou da banca de avaliação, lembra que, em certas situações, a operação de um ambu não automatizado pode exigir o envolvimento de até dois profissionais, além de dificultar a tarefa de manter a máscara facial acoplada ao rosto do paciente. "Aí eu vejo a primeira vantagem do ambu automatizado, uma vez que poderia poupar um membro da equipe para se destinar a outra função, como um apoio à intubação, a administração de medicamentos ou até a programação de um ventilador mecânico para uso posterior", comenta. 

Jonathan Trovato (bolsista - Eletrotécnica), Ana Paula Martins (Enfermeira), Dr. Salomão Michel Abdo (Médico Intensivista), Jaqueline Cristina Gonçalves (Técnica em Enfermagem), Elaine Belchior (colaboradora externa), Daniela Tavares Henriques (Fisioterapeuta), João Vitor Oliveira (bolsista - Mecânica), prof. Luciano Gonçalves (coordenador do projeto) e Larissa Duarte (bolsista - Engenharia Ferroviária e Metroviária) em reunião para avaliação do protótipo do sistema eletromecânico de automatização do ambu.

"Para a efetividade da técnica (de utilização do ambu)", acrescenta a profissional, "é necessário que as compressões se mantenham suaves, mas ao mesmo tempo firmes e rítmicas, e nem sempre a resolução dessa emergência é rápida. Em tempo prolongado (com o ambu não automatizado), isso causa o cansaço físico do profissional, comprometendo a qualidade da ventilação. No caso do ambu automatizado, teríamos uma ventilação mais linear com frequência, volume e fluxo constantes pelo tempo que fosse necessário". 

"O sistema de automatização (inicialmente em protótipo) desenvolvido no IF Sudeste MG possibilita o ajuste da frequência e da pressão exercida. Ele possui a grande vantagem de ter, acopladas ao sistema, duas baterias que permitem seu uso de forma autônoma, sem estar ligado à energia elétrica. Além disso, ele pode ser usado não só em salas de emergência, como também no transporte dos pacientes. O projeto é incrível e atende a sua principal função: manter vidas", completa a fisioterapeuta. 

Usabilidade, Segurança, Elétrica e Mecânica

Ao desenvolver o protótipo do sistema eletromecânico, que conta com um motor de 12 volts, um controle para operação a distância e um braço mecânico, a equipe considerou diversos elementos: a possibilidade de utilização em hospital (por isso é feito com chapa de acrílico em vez de MDF), facilidade de manutenção, segurança para profissional e paciente, confiabilidade e a visibilidade do sistema em funcionamento. Antes de levar o projeto à banca, houve testes de pressão máxima, de elevação do tórax e de volume, cada um deles em cenários com e sem a máquina. Os resultados obtidos foram muito próximos, sinalizando que o equipamento é confiável. 

Esses e outros aspectos foram avaliados por professores do IF Sudeste MG, sendo dois engenheiros eletricistas e dois engenheiros mecânicos. A análise geral foi positiva, com plena concordância em relação à maior parte das funcionalidades do dispositivo. Houve recomendações de ajustes para reduzir o peso do equipamento, simplificar a troca de bateria e neutralizar qualquer possibilidade de o profissional de Saúde tocar acidentalmente o conjunto de acionamento do ambu (já existem proteções frontal e superior para que isso não aconteça), além de possíveis melhorias no controle remoto e alguns elementos mecânicos. 

A equipe trabalhará em todos esses pontos antes de tentar viabilizar a fabricação do equipamento propriamente dito via parceria para, em seguida, realizar as simulações em humanos recomendadas pelos profissionais de Saúde, obter a validação clínica do dispositivo e doá-lo ao sistema de Saúde.

Banca de avaliação (engenheiros): Professores Marcus Vinícius de Paiva, Maycoln José de Oliveira (engenheiros eletricistas), Vicente Rezende de Almeida Júnior e Philipe Augusto de Paula Pacheco (engenheiros mecânicos).

*Com apoio e informações do professor Luciano Gonçalves